resumo do dia: Cidades rebeldes de David Harvey

Escrito por Thiago Pinheiro

Equipe de autores da ArqBahia.

introdução

    Cidades Rebeldes: Do Direito à Cidade à Revolução Urbana, escrito por David Harvey e com edição da Martins Fontes, é uma obra que traz uma análise profunda do papel das cidades na transformação social, abordando as contradições da urbanização e os movimentos anticapitalistas. O livro é especialmente oportuno após o ciclo de lutas e ocupações que ocorreram a partir de 2011, no norte da África, derrubando ditaduras na Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, e se espalhando pela Europa, com ocupações e greves na Grécia e Espanha, além de revoltas nos subúrbios de Londres, no movimento estudantil nas ruas de Santiago, Chile, no Occupy Wall Street, em Nova York, e na jornada de lutas no Brasil durante a revolta da tarifa em 2013.</p>       
        <h2>a herança de lefevbre</h2>      
                                                        <img width="768" height="542" src="https://arqbahia.com.br/wp-content/uploads/2023/05/lefevbre-768x542.jpeg" alt="henri lefevbre foto" loading="lazy" />                                                          
    <p>O autor parte do legado de Henri Lefebvre, que já em 1967 escreveu "O Direito à Cidade", antecipando a tendência de revoltas e lutas que marcariam o Maio de 1968 em Paris e em diversas cidades ao redor do mundo. Lefebvre percebeu a dor existencial da crise devastadora da vida cotidiana na cidade e apresentou a exigência de enfrentá-la e criar uma vida urbana alternativa, menos alienada, mais significativa e divertida, mas também conflitante e dialética. Ele desafiou o marxismo tradicional ao defender que a classe trabalhadora revolucionária era formada pelos trabalhadores urbanos, não apenas pelos operários fabris, reposicionando o caráter de teoria e prática como práxis a partir da multiplicidade de movimentos urbanos na luta pelo direito à cidade.</p>      
        <h2>ressurgimento do direito à cidade</h2>      
                                                        <img width="750" height="500" src="https://arqbahia.com.br/wp-content/uploads/2023/05/faiax.jpg" alt="faixa cidade para quem dirieto a cidade" loading="lazy" />                                                          
    <p>Nas últimas décadas, a ideia de direito à cidade ressurgiu com força e se desenvolveu por meio das lutas dos movimentos sociais. Essas práticas, que surgem nas ruas, bairros e praças, reforçam o argumento de Harvey de que o urbano é um espaço de segregação, separação e dominação, mas também de encontro, simultaneidade e reunião. Essas práticas políticas têm preenchido o "significante vazio" do direito à cidade, buscando concretizar o percurso da revolução urbana, conforme os desafios apresentados por Lefebvre e atualizados por Harvey, que argumenta convincentemente que somente quando a política se concentrar na produção e reprodução da vida urbana como processo de trabalho essencial, capaz de gerar impulsos revolucionários, será possível concretizar lutas anticapitalistas capazes de transformar radicalmente a vida cotidiana.</p>     
        <h2>uma nova cidade</h2>        
                                                        <img width="768" height="514" src="https://arqbahia.com.br/wp-content/uploads/2023/05/suburbioamericano-768x514.jpg" alt="suburbio americano" loading="lazy" />                                                           
    <p>O autor defende que nossa tarefa política é imaginar e reconstituir um novo tipo de cidade. Ele destaca como a cidade tradicional que conhecemos foi implodida e morta pela urbanização capitalista desenfreada, que busca acumular capital para sua reprodução por meio do crescimento urbano desordenado. Harvey ressalta três processos-chave nesse sentido: a haussmannização, reforma urbana em Paris que expulsou trabalhadores pobres do centro e estabeleceu os boulevards; a suburbanização nos Estados Unidos pós-guerra.

Esse tipo de urbanização resultou na sociedade da casa própria, com a expansão das cidades para áreas periféricas e o surgimento dos subúrbios como símbolo do sonho americano. Esse modelo de urbanização, baseado na segregação espacial e na dependência do automóvel, contribuiu para a fragmentação social e para a exclusão dos mais pobres, que ficaram presos em áreas sem infraestrutura adequada e serviços básicos.

Diante desse cenário, Harvey argumenta que a luta pelo direito à cidade deve ser entendida como uma luta por uma cidade mais justa e inclusiva, que atenda às necessidades e desejos da população em vez de servir aos interesses do capital. Ele ressalta a importância de pensar em alternativas à lógica do mercado imobiliário, que promove a gentrificação e expulsa os moradores de baixa renda dos centros urbanos.

luta de classes e espaço urbano

O autor também discute a necessidade de repensar a relação entre espaço urbano e capital, enfatizando que a cidade é um local de produção e acumulação de valor. Ele critica a ideia de que o crescimento econômico ilimitado é o único caminho para o desenvolvimento urbano e propõe a reorganização da produção e distribuição de recursos como forma de promover uma cidade mais sustentável e equitativa.

Além disso, Harvey destaca a importância dos movimentos sociais na luta pelo direito à cidade. Ele analisa exemplos de mobilizações urbanas ao redor do mundo, como os movimentos Occupy e as ocupações de terras e edifícios vazios por moradores sem-teto. Essas ações coletivas têm como objetivo reivindicar o espaço urbano como um bem comum e reverter as políticas neoliberais que privilegiam os interesses privados em detrimento do bem-estar coletivo.

conclusão

Ao longo de “Cidades Rebeldes”, Harvey apresenta uma visão crítica do atual modelo de urbanização e propõe alternativas para uma cidade mais justa e sustentável. Ele ressalta que a luta pelo direito à cidade não é apenas uma luta por moradia digna, mas também por uma cidade que promova a igualdade social, a participação democrática e a qualidade de vida para todos os seus habitantes. Nesse sentido, o livro se torna uma leitura indispensável para aqueles interessados em entender e transformar as dinâmicas urbanas contemporâneas.

perguntas frequentes (faq)

  1. Qual é o tema central abordado no livro “Cidades Rebeldes” de David Harvey?
    O papel das cidades na transformação social a partir das contradições da urbanização e dos movimentos anticapitalistas.

  2. Quais são alguns exemplos de movimentos de resistência mencionados pelo autor?
    Movimentos de ocupação e greve na Grécia e Espanha, revoltas nos subúrbios de Londres, o movimento estudantil em Santiago, o Occupy Wall Street em Nova York e a jornada de lutas no Brasil na revolta da tarifa em 2013.

  3. Por que o direito à cidade é considerado fundamental na luta contra as desigualdades urbanas?
    O direito à cidade permite que as pessoas tenham acesso não apenas aos recursos urbanos, mas também o poder de mudar e reinventar a cidade de acordo com seus desejos e necessidades.

  4. Quais são alguns exemplos de eventos que o autor critica como resultado da urbanização capitalista descontrolada? A haussmannização de Paris, a suburbanização nos Estados Unidos e as crises imobiliárias recentes são exemplos destacados pelo autor.

  5. Quem é David Harvey?
    David Harvey é um geógrafo e teórico social britânico, professor emérito da City University of New York, conhecido por seus estudos sobre geografia urbana, teoria marxista e análise das relações entre espaço e poder na sociedade contemporânea.

referências

Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana (unicamp.br)

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