A Lenda do Muiraquitã
A história do Muiraquitã começa com a lenda das Amazonas, um grupo de mulheres guerreiras. Embora a ideia da existência dessas mulheres com características únicas, como peito de homem (Icamiabas) ou a ausência de mama (Amazonas), seja uma lenda grega, na região da Amazônia, essa concepção foi introduzida por volta de 24 de junho de 1542, durante a famosa Batalha das Icamiabas.
Nesse evento, os espanhóis optaram por se retirar para evitar uma derrota. O cronista da expedição, frei Gaspar de Carvajal, descreveu essas mulheres como altas, com cabelos enrolados em volta da cabeça, e com suas partes íntimas cobertas. Essa descrição deixou dúvidas quanto ao sexo delas.
As Icamiabas
Reza a lenda que, há 400 ou 600 anos, em tempos remotos, existia, entre as diversas tribos que habitavam a região amazônica, uma tribo exclusivamente formada por mulheres. Estas mulheres, conhecidas como Icamiabas naquela época, eram habilidosas nas artes da guerra e eram reputadas como bravas e invencíveis guerreiras. Tal era a sua fama que nem mesmo o mais audacioso guerreiro ousava adentrar o território de sua tribo.
Contrariando a tradição de fragilidade feminina, as Icamiabas assumiam todas as responsabilidades tradicionalmente atribuídas aos homens. Elas caçavam, lutavam e adoravam seus próprios deuses sem depender da presença masculina, construindo assim uma nação forte e temida que, com o passar do tempo, ficaria conhecida como Amazonas.
Entretanto, o poder e independência dessas guerreiras não bastavam para a continuação de sua tribo, já que para reproduzirem-se necessitavam da presença dos homens. Por essa razão, em determinadas ocasiões, abriam exceções em suas rigorosas leis e acolhiam na aldeia, às margens do lago Jaci-Uaurá, grupos de homens de tribos vizinhas.
Era um período de festividades. Durante a Lua cheia, homens viajavam de regiões distantes, navegando pelos rios abundantes, ansiosos por aproveitar a única oportunidade de adentrar o território das mulheres guerreiras e estar com elas. As cerimônias religiosas ocorriam na última noite da permanência dos homens na aldeia. As mulheres acompanhavam-nos até as margens do lago e, em homenagem a Jaci, a Lua, a mãe dos frutos, cantavam cânticos e orações.
Quando a superfície serena das águas refletia a intensa luminosidade da Lua, as mulheres mergulhavam no lago e nadavam até o fundo, onde encontravam a Mãe do Muiraquitã. De suas mãos, recebiam uma substância de argila verde, com a qual esculpiam pequenas figuras, como tartarugas, peixes, cilindros ou qualquer outra inspiração.
Ao emergir, essas pequenas esculturas, ainda maleáveis, endureciam como pedra. Pequenos, verdes e brilhantes, esses talismãs desempenhavam então o seu propósito. Nessa noite de amor, as Icamiabas carinhosamente entregavam as pequenas joias aos seus eleitos. Os Muiraquitãs, transformados em troféus, eram usados pelos homens, que os penduravam em seus pescoços para receber a proteção mágica, adquirindo poder sobre os outros homens.
Essas pequenas esculturas, veneradas como poderosos talismãs, eram transmitidas de geração em geração aos filhos desses guerreiros, como uma herança do momento em que suas tribos triunfaram sobre as temíveis mulheres guerreiras. As Icamiabas, por outro lado, após o período de gestação, separavam os meninos nascidos, que eram sacrificados, enquanto educavam as meninas nas artes da guerra.
As Origens Históricas dos Muiraquitãs
Os Muiraquitãs têm suas primeiras aparições registradas na região do Baixo Rio Amazonas, especialmente perto do Rio Tapajós, próximo a Santarém. Essa área também é conhecida por suas tradições arqueológicas famosas, como a cultura Tapajó, que deixou um legado em cerâmicas policrômicas e urnas funerárias.
Muitos autores já estabeleceram que os muiraquitãs seriam artefatos das culturas Tapajó e Conduri, juntamente com os ídolos de pedra e a cerâmica de apliques zoomórficos, encontrados na região. Inclusive, entre os tapajó, esses ídolos eram usados nos rituais, envolvendo as múmias ancestrais, mas a maior parte deles está em museus do exterior e poucos, nos do Brasil.
Além disso, esses amuletos foram encontrados na Ilha de Marajó, nas proximidades de Manaus, no Alto Rio Negro, e até mesmo fora do Brasil, como em 1951, quando foram descobertos Muiraquitãs esculpidos em rochas de nefrita.
A Confecção dos Muiraquitãs
A confecção dos Muiraquitãs é um processo intricado que envolve várias etapas. Inicialmente, a matéria-prima, normalmente uma rocha de jadeíta, era moldada e perfurada com outros objetos de rocha ou ossos de animais. Para fazer os furos, os artesãos usavam água e areia fina para criar a pressão necessária.
Depois de fazer os furos, a peça era polida com seixos, deixando-a mais lisa e arredondando as laterais. Esse processo exigia paciência, habilidade e tempo, já que as rochas não eram fáceis de modificar, especialmente no caso dos Muiraquitãs menores.
Muiraquitãs em Cerâmica
Além das versões esculpidas em rochas, os Muiraquitãs também foram feitos em cerâmica. O processo de confecção em cerâmica é diferente e envolve modelar o amuleto em barro, criar incisões e realizar queimas em altas temperaturas. Esses amuletos de cerâmica são menos comuns, mas ainda revelam a riqueza da cultura indígena.
Significado e Simbolismo
Embora as interpretações e versões dos Muiraquitãs possam variar, existe um consenso geral de que esses amuletos são considerados portadores de boas energias e têm a capacidade de trazer coisas positivas para aqueles que os possuem. Eles são apreciados não apenas por seu valor simbólico, mas também por sua beleza e importância cultural na região amazônica.
Mas se você quer saber, há várias teorias sobre o seu significado e uma delas sugere que eles estão relacionados à fertilidade. Isso se deve ao fato de que as rãs, que são frequentemente representadas nos Muiraquitãs, têm uma rápida capacidade de reprodução, e a forma desses amuletos se assemelha à anatomia do corpo feminino, o que pode simbolizar a fertilidade.
Referências
A Lenda do Muiraquitã (ecoamazonia.org.br)
Muiraquitã, escultura em forma de rã – Arqueologia Brasileira | Museu Nacional – UFRJ